Elucubrações a respeito da sorte de uns e do azar de outros
Avaliando o resultado da eleição para Deputado Federal, no Estado do Pará (onde foram necessários no mínimo 80.000 votos ou, dependendo da coligação, até 112.000 votos para ser vitorioso) me pus a meditar sobre quais os tortuosos caminhos que levam à Câmara Federal. .
Depois de muito pensar e pesquisar, enumerei os seguintes fatores determinantes para um candidato conseguir uma vaga na Câmara Federal:
1) Montante considerável de recursos à disposição do candidato: Nesse quesito, ocupar um cargo público estratégico pode ser decisivo, principalmente se o cargo for em Órgão que tenha capilaridade (esteja em muitos municípios) e disponha de um orçamento turbinado. Estar exercendo um mandato legislativo, Estadual ou Federal, é outro fator decisivo, pois coloca à disposição do candidato diversas fontes de recursos públicos (convênios, emendas parlamentares) que podem ser direcionados para seu reduto eleitoral. Aqui, fazer parte da base aliada do Governo é um importante diferencial já que facilita a aprovação das emendas e a negociação para alocação dos recursos pleiteados em Secretarias Executivas que repassarão os recursos para os municípios ou ONGs indicadas pelo Deputado.
2) Possuir Liderança reconhecida em segmentos sociais numerosos e coesos, a exemplo da comunidade evangélica.
3) Possuir um reduto eleitoral consolidado- O reduto eleitoral, que muitas vezes poderia ser chamado de “curral eleitoral”, é a comunidade ou região que está sob a égide do candidato. Dependendo do tipo de camada social a que pertence o público-alvo, o candidato atua de um jeito: Praticando o assistencialismo, preenchendo as ausências do Poder Público; atendendo os anseios mais importantes da comunidade, seja de modo direto, financiando projetos, seja de modo indireto, legislando ou propondo emendas a favor da construção de escolas, creches, hospitais; defendendo determinados projetos de interesse social tais como, casamento entre casais do mesmo sexo.
Em alguns casos, o reduto eleitoral é herança política: passa para os descendentes ou afilhados, como no tempo das capitanias hereditárias.
4) Possuir um bom capital político (reconhecimento social de que aquele candidato mais do que os outros exerce bem seu papel de ator político). Esse reconhecimento vem, principalmente da aura construída em torno do candidato. Não se confunde com a liderança, tem mais a ver com a imagem projetada pelo candidato. Na eleição deste ano, ser candidato ficha limpa era é um bom referencial. Em outras eleições, ser um deputado constituinte ou ter atuado na luta contra a ditadura.
Assim, percebe-se que a estrada para a Câmara Federal passa quase que necessariamente pela experiência adquirida nas Assembléias Estaduais. É como se fosse uma pós-graduação!
As exceções que confirmam essa regra merecem nosso olhar atônito e nossa estupefação! Em São Paulo, temos o Tiririca, palhaço alçado a condição de deputado mais votado do Brasil. No Pará, temos o ilustre Cláudio Puty, doutor em Economia, bem nascido, egresso do Colégio Marista, estudou no estrangeiro”, sem reduto eleitoral, sem capital político, sem liderança reconhecida- Um perfil bastante diferente dos outros deputados federais e estaduais do PT! Mesmo assim foi o escolhido pela Governadora e seus Cavaleiros da Távola Oval para representar a tendência Democracia Socialista (DS), chutando para escanteio outros prováveis candidatos também da DS, com mais bagagem, a exemplo de Charles Alcântara e Suely Oliveira. Talvez as razões para a escolha passem pela afinidade ( de métodos, meios e fins) ou, quem sabem, seja apenas a personificação daquilo que Max Weber chamou de “liderança carismática”. Quem sabe...Quem sabe...
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