Brasil, o país da Teoria!
A cada dia mais me convenço que
vivemos num país de mentirinha, feito para inglês ver, como diziam antigamente.
Na teoria tudo é divino, maravilhoso, basta ler a nossa Constituição- plena de
direitos que muitas vezes não chegam à maioria da população. Maior exemplo disso
é o Programa do Ministério da Saúde- Programa Saúde da Família, atualmente
denominado “Estratégia Saúde da Família.
Esse Programa foi concebido em
1994 com o objetivo de mudar a antiga proposição de caráter exclusivamente
centrado na doença. O PSF foi criado para alterar o paradigma voltado às
doenças, baseado no hospital, para o de promoção de saúde, prevenção de doenças
e cuidado às doenças crônicas. A chamada Atenção Básica de Saúde.
Segundo o Ministério da Saúde, a
Estratégia Saúde da Família, é
operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em
unidades básicas de saúde. Estas equipes são responsáveis pelo acompanhamento
de um número definido de famílias, localizadas em uma área geográfica
delimitada. As equipes atuam com ações de promoção da saúde, prevenção,
recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais freqüentes, e na manutenção
da saúde desta comunidade. As equipes são compostas, no mínimo, por um médico
de família, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e 6 agentes comunitários
de saúde. Quando ampliada, conta ainda com: um dentista, um auxiliar de
consultório dentário e um técnico em higiene dental.
Os agentes comunitários de saúde
são treinado para cuidar de um determinado número de famílias, por meio de
visitas domiciliares, de modo a ter sempre a mão o histórico de saúde de toda a
população residente na circunscrição da unidade de Saúde (ESF). Atualmente, encontram -se em atividade no país
204 mil ACS, estando presentes tanto em comunidades rurais e periferias urbanas
quanto em municípios altamente urbanizados e industrializados.
Bom, na teoria o Programa tinha
tudo para dar certo e a população não necessitaria viver o inferno que vive em
se tratando de saúde. Múltiplas razões contribuem para o insucesso de Programa
tão bem elaborado, dentre elas:
1. A descentralização da saúde: A Constituição de 1988 descentralizou
para os municípios a execução das ações de saúde. A União e os Estados colaboram
com recursos, mas o município também tem que fazer sua parte. A gestão da
saúde é dos municípios, dessa forma a
saúde depende da existência de administradores treinados, sérios e bem preparados. Com os
salários pagos pelas Prefeituras isso é praticamente impossível. Por outro
lado, pelo menos aqui no Norte, a corrupção assola a gestão municipal e o
recurso destinado à saúde é desviado para muitos bolsos. Sem dinheiro, sem uma
gestão séria e competente como fazer o sistema funcionar?
2. A carência de médicos e outros profissionais de saúde:
Problema recorrente nas prefeituras de municípios do interior, onde não existem
profissionais dispostos a morar em locais sem infraestrutura mínima. Como condená-los
por isso?
3. O descumprimento da jornada de trabalho: O Programa
Estratégia da Família contrata os profissionais de saúde para trabalharem em
jornada de 40 horas semanais, ou seja, 08 horas diárias. Na prática isso não
ocorre porque os médicos, principalmente na capital, exercem a profissão em outros lugares, especialmente
em consultórios particulares. No interior
os médicos assinam contratos para trabalhar em regra de dois a três dias na
semana. Com a ausência contumaz do chefe da Unidade tudo desmorona: a Unidade
fica entregue aos outros profissionais menos graduados e o que mais se encontra
nas ESF são enfermeiras clinicando, agentes comunitários de saúde que não visitam
as famílias de sua circunscrição ou que visitam mas não cumprem seu papel em
razão da falta de material para exercer suas atividades ( medidores de pressão,
balança para pesar os bêbes, etc).
No Portal do Ministério da Saúde
(http://cnes.datasus.gov.br/Lista_Tot_Equipes.asp)
estão registradas todas as equipes de
ESF. Em Belém existem as seguintes unidades:
ESTABELECIMENTO
|
UNIDADE MUNICIPAL DE SAUDE DA
CONDOR
|
CENTRO DE SAUDE DO OUTEIRO
|
UNIDADE MUNICIPAL DE SAUDE DO GUAMA
|
CASA FAMILIA FAMA
|
CASA FAMILIA FURO DAS MARINHAS
|
CASA FAMILIA DO COMBU
|
CASA FAMILIA EDUARDO ANGELIN
|
CASA FAMILIA TERRA FIRME
|
CASA FAMILIA MARACAJA
|
CASA FAMILIA BARREIRO I
|
CASA FAMILIA VILA DA BARCA
|
CASA FAMILIA CARANANDUBA
|
CASA FAMILIA FIDELIS
|
CASA FAMILIA MANGUEIRAO
|
CASA FAMILIA PARQUE VERDE
|
CASA FAMILIA CANAL DO PIRAJA
|
PFS CANAL DO GALO
|
UNIDADE MUNICIPAL DE SAUDE DA
SACRAMENTA
|
CASA FAMILIA SUCURIJUQUARA
|
CASA FAMILIA CANAL DA VISCONDE
|
CASA FAMILIA PARQUE AMAZONIA
|
CASA FAMILIA RADIONAL II
|
CASA FAMILIA RIACHO DOCE
|
CASA FAMILIA MALVINAS
|
CASA FAMILIA SOUZA
|
CASA FAMILIA UTINGA
|
CASA FAMILIA PARQUE GUAJARA
|
CASA FAMILIA AEROPORTO
|
CASA FAMILIA BARREIRO II
|
UNIDADE DE SAUDE DA FAMILIA DO
PARACURI
|
UNIDADE DE SAUDE DA FAMILIA DE SAO
JOAQUIM
|
UNIDADE DE SAUDE DA FAMILIA DE
COTIJUBA
|
UNIDADE DE SAUDE DA FAMILIA DA CDP
|
UNIDADE DE SAUDE DA FAMILIA DA BAIA
DO SOL
|
UNIDADE DE SAUDE DA FAMILIA TAPANA
I
|
UNIDADE DE SAUDE DA FAMILIA
CARMELANDIA
|
UNIDADE DE SAUDE DA FAMILIA AGUAS
LINDAS
|
UNIDADE DE SAUDE DA FAMILIA AGULHA
|
UNIDADE DE SAUDE DA FAMILIA TAPANA
II
|
UNIDADE DE SAUDE DA FAMILIA DA
SACRAMENTA
|
UNIDADE DE SAUDE DA FAMILIA
PRATINHA
|
UNIDADE DE SAUDE DA FAMILIA UNA
|
UNIDADE DE SAUDE DA FAMILIA AGUA
CRISTAL
|
UNIDADE DE SAUDE DA FAMILIA CANAL
DO GALO II
|
UNIDADE DE SAUDE DA FAMILIA PARQUE
AMAZONIA II
|
UNIDADE DE SAUDE DA FAMILIA CRISTO
REDENTOR
|
UNIDADE DE SAUDE DA FAMILIA DE
AGUAS NEGRAS
|
UNIDADE DE SAUDE DA FAMILIA DO
TELEGRÁF0
|
Segundo os registros todas estão
com a equipe completa, ou seja, diariamente a população é atendida por um médico durante 08 horas. Para verificar se isso ocorre na prátrica, selecionei dez médicos lotados nessa unidades e pesquisei
no Google para verificar se possuíam outro vínculo. Resultado da Pesquisa:
Todos os tem registro que indicam que clinicam em consultórios particulares. Portanto, com certeza não tem como cumprir a jornada de 08 horasna ESF.
4. A falta de estrutura das Unidades de ESF: Na teoria das
ESF deveriam funcionar com equipamento básico e necessário para atender a
população. Na prática isso não ocorre porque grande parte das prefeituras
desviam os recursos recebidos para esse fim. Na teoria, as unidades de ESF
deveriam distribuir medicamentos gratuitos para a população. Na prática isso
não ocorre porque grande parte das prefeituras desviam os recursos recebidos
para esse fim. E os profissionais que labutam nas ESF não denunciam os desvios ou
porque têm rabo preso já que não cumprem
a jornada de trabalho ou porque temem perder o emprego.
5. Como o sistema não funciona, a população não se sentindo assistida
pelo agente comunitário de saúde continua a buscar continuamente os serviços
médicos da ESF sufocando o precário sistema existente nas Unidades de ESF.
Pois é, no Brasil da teoria está
tudo muito bem estruturado. No Brasil real, o sistema não funciona, mas as entidades
de classe seguem fazendo seu papel- defendendo o interesse dos seus filiados. lutando
por um ótimo salário ou pela prerrogativa de trabalhar em muitos lugares. Na
outra ponta do sistema, a população que não
tem acesso a planos de saúde agoniza, ferida
em seu direito à saúde, esperando o dia em que finalmente o sistema Estratégia
Saúde da Famíliavai funcionar e o Brasil vai sair da teoria para a realidade.