Divisão do Pará: Parte I
Quanto mais leio a respeito desse assunto mais me ponho a pensar de onde saiu essa idéia separatista. A quem interessa essa divisão, quais os motivos que levam uma parte da população do Estado a querer formar uma outra unidade federativa. O que está por trás disso tudo?
Idéias separatistas tem a ver com a falta de identidade cultural de determinada parcela da população com o País (região) onde vive. A Europa, formada por diversos grupos étnicos, tem sido palco de guerras e mais guerras motivadas por razões nacionalistas/ separatistas. É claro, que outras razões também contribuem para o cisma: razões políticas e econômicas, principalmente.
O movimento separatista do Sul e Sudeste do Pará é encabeçado e conduzido por pessoas que não tem raízes históricas com a terra paraense: As pessoas que disseminam essa idéia emigraram e para cá vieram com o objetivo de buscar oportunidades que não tinham em sua terra natal. Aqui chegando, de forasteiros passaram a donos da terra depois de ocupar o espaço antes ocupado pelos caboclos. Apesar de aqui terem se estabelecido, parece nunca terem perdido a sensação de não pertencimento ao Estado que os acolheu.
O ideal separatista reproduz o modelo colonialista predatório de Portugal e coroa esse movimento: os “novos colonizadores” vieram, tomaram posse da terra e agora querem a “propriedade”. Sentem-se donos e senhores da região, sentem-se mais bem preparados para gerir a riqueza da terra paraense do que aqueles que aqui tem suas raízes. Ao invés de chegar para somar, vieram para dividir.
Todos lembram, como exemplo de sucesso, a separação do Estado de Goiás, cuja região norte após tornar-se o Estado de Tocantins passou a apresentar índices de desenvolvimento formidáveis. Porém a situação era bem diferente: Lá não havia a maior província mineral do Brasil e nem os problemas sociais que tem a região de Carajás.
Pior é que a população que ali reside embarcou nessa fábula de que a separação resolverá todos os problemas da região, esquecendo que as pessoas que comandam hoje a região e defendem a separação são as responsáveis pela pobreza e pela desigualdade social que ronda as grandes cidades e que assola as pequenas vilas. Essas pessoas continuarão mandando no novo Estado, só que com mais dinheiro e Poder!
Falar em Carajás é falar nem riqueza mineral. Riqueza mineral lembra royalte. Porém, é preciso não esquecer que a distribuição dos recursos dos royaltes, pela exploração mineral, é feita da seguinte forma: 12% para a União, 23% para o Estado onde for extraída a substância mineral e a maior parte (65%) para o município produtor. Assim, o dinheiro fruto da exploração da terra é gerido principalmente pelos Prefeitos. Veja abaixo:
Parauapebas e Marabá: população, receita e royalties
IBGE - 2010 | Orçamento Público 2010 | ||
Municipio | População | Receita (R$) | CFEM (Royaltes) |
Parauapebas | 153.908 | 464.045.479,02 | 137.931.789,77 |
Marabá | 233.669 | 443.400.000,00 | 4.235.910,19 |
Com a separação o que mudará é que os 23% do Estado deixarão de beneficiar todo o resto do atual Pará e serão direcionados para o novo Estado de Carajás. Mas relembro: os recursos ficarão nas mãos dos mesmos políticos que mandam hoje na região e que nada fizeram para melhorar os índices sócio-econômicos.
Também é preciso lembrar que das dez cidades mais violentas do país, três estão em Carajás: Itupiranga --a campeã de homicídios no Brasil--, Marabá e Goianésia do Pará, respectivamente a quarta e a sexta cidades mais violentas do país. Outros oito municípios da região possuem taxas de homicídios dolosos superiores a de Honduras: Rondon do Pará, Tucuruí, Novo Repartimento, Eldorado dos Carajás, Pacajá, Jacundá, Nova Ipixuna e Parauapebas. A separação mudará esse quadro? Diminuirá a emigração para a Região? Difícil, afinal quem não quer viver numa região rica, cuja economia é primária!
É certo que a Amazônia precisa repensar seu território e os problemas decorrentes da enorme extensão a ser gerida, porém será a separação o caminho mais certo? Parece no mínimo esdrúxulo o fato de que ao invés de se pensar em redistribuir melhor a riqueza de Carajás para os irmãos do Marajó, que tanto precisam, pense-se em criar um novo Estado alijado da parte pobre, tal qual fizeram os americanos ao construir o muro que isola o EEUU do México!
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